Quinta-feira é Natal, com ele vem mais um especial de Natal de Doctor Who. O desse ano, Last Christmas, é o primeiro especial com Peter Capaldi como o Doctor, mas já é o terceiro com Jenna Coleman, que interpretou a governanta Clara Oswin Oswald em The Snowmen, em 2012, e participou já como simplesmente Clara do episódio do ano passado, The Time of the Doctor.
Enquanto o episódio de Natal desse ano ainda não é exibido, para entrar no clima natalino, resolvi falar aqui nessa Terça Whovian do meu especial de Natal preferido, o de 2005, The Christmas Invasion.
Esse foi o primeiro especial de Natal da série “nova”. E ele trazia consigo alguns desafios. Um deles era apresentar o novo Doctor, o recém-regenerado David Tennant, e fazer com que os novos fãs, que tinham acabado de serem introduzidos ao mundo de Doctor Who, aceitassem um novo Doctor no lugar de Christopher Eccleston, além de ter que explicar o que era regeneração, como ela funcionava…
David Tennant disse em algumas entrevistas que aceitar o papel de Doctor quando ele aceitou era uma decisão que trazia riscos, e mesmo um fã da série como ele tinha que pensar bem antes de dizer sim. Afinal, existia a possibilidade da série, recém relançada, ser simplesmente cancelada novamente pela BBC com a saída de Eccleston e David Tennant ser para sempre aquele cara que foi o Doctor por alguns minutos no fim de Parting of the Ways. Ainda bem que a série fez sucesso suficiente para a BBC apostar nela, dando até sinal verde para o especial de Natal.
Uma das coisas que eu mais gosto nesse especial é que, apesar de ser o primeiro episódio inteiro de Tennant como o Doctor, ele não é o foco principal. Aliás, ele passa mais da metade do episódio em um coma pós-regeneratório, o que dá espaço para que Rose Tyler brilhe. Com isso, o espectador passa com ela toda a incerteza e toda a dor da perda do Doctor do Eccleston, além de toda a dúvida sobre a regeneração: afinal, quem é esse cara? Ele só trocou a cara ou mudou tudo, até de personalidade? 
The Christmas Invasion traz também a volta de Harriet Jones, Primeira-ministra (sim, nós sabemos quem ela é). Uma característica muito presente nos episódios da era RTD é que eles mostram o dia-a-dia das pessoas na Terra e como as invasões alienígenas acabam impactando as notícias e a vida das pessoas comuns. Esse episódio é um clássico exemplo disso: com a invasão alienígena acontecendo logo no dia de Natal, vemos as notícias correndo o mundo, as pessoas reagindo a tudo aquilo, a UNIT se colocando a postos…
Vemos também como o fato de que Rose está viajando pelo tempo e espaço com o Senhor do Tempo afeta a sua mãe, já que Jackie não faz esforço nenhum para esconder seu desagrado pela filha ter ido embora.
Logo na primeira cena, nós vemos Jackie colocando o presente de Rose embaixo da árvore de Natal em sua casa, quando ouve o som da TARDIS. Então ela e Mickey correm para encontrá-la e a TARDIS se materializa no ar, trombando com dois prédios e um furgão antes de aterrizar.
Aliás, sempre fiquei curiosa de saber como as pessoas que tiveram seu prédio/carro estragado pela TARDIS explicaram para os outros…
Um dos motivos para eu amar tanto esse especial de Natal é que foi nele que eu me apaixonei pelo décimo Doctor. E sinceramente, não foi nem numa cena legal, tipo depois do discurso dele tirado direto d’O Rei Leão. Foi na hora que ele sai da TARDIS e deseja um feliz natal para a Jackie e o Mickey, desmaiando em seguida. Não adianta me perguntar porque, mas que foi naquele momento, foi.
Também é ótimo observar a Rose nesse episódio. Ela acaba tendo que tomar as rédeas da situação, já que o Doctor passa a maior parte do episódio em coma. E para aumentar a confusão, a energia da regeneração acaba atraindo uma raça alienígena que pretende invadir a Terra… bem no dia de Natal.
Harriet Jones segura bem a barra, se colocando a frente e não deixando que o presidente dos EUA tente liderar a situação, e ainda deixando bem claro que se as intenções da raça alienígena não são de paz, que a Terra está preparada para lutar por sua independência.
No fim das contas, porém, é a Rose que brilha no episódio. Não, o discurso dela não é o que amedontra os Sicorax. Mas ela tenta, porque sabe que alguém precisa tentar.
Mas é graças ao chá (coisa mais britânica impossível) que acaba restaurando o Doctor. Após algumas constatações importantes, do tipo “sou rude e não sou ruivo”, o Doctor toma seu lugar como campeão do planeta – após citar O Rei Leão – e luta com o líder dos Sicorax para salvar a humanidade.
É nessa luta que ele perde a mão, e na hora você nem dá bola para isso, afinal ele faz crescer outra no lugar, tipo rabo de lagartixa, mas essa mão ainda vai fazer história…
Após mandar os Sicorax embora, o Doctor acredita estar fazendo a coisa certa… e então Harriet Jones dá a ordem para Torchwood abater a nave, o que deixa o Doctor tão bravo a ponto de começar um boato que acaba por tirar a Harriet do cargo de Primeira-Ministra, simplesmente comentando com o assistente dela “ela não parece estar cansada?”.
Devo admitir que consigo entender a atitude de Harriet Jones: ela acabou de ver a humanidade toda ser ameaçada por uma raça alienígena que não pensou duas vezes antes de assassinar dois membros da comitiva levada até a nave para as negociações. Isso depois de ter esperado pelo Doctor por um bom tempo e ter tido que tomar decisões pelo futuro da humanidade inteira sem a ajuda de ninguém. É normal que ela se sinta responsável por garantir que aquela ameaça não mais amedronte a Terra.
A atitude do Doctor vai ter uma consequência grave também, já que ele mexeu com o futuro quando tirou a Harriet Jones do cargo. Mas isso a gente só vai ver no final da terceira temporada.
O episódio acaba com um toque de esperança, com a ceia de Natal na casa das Tyler e com uma certa insegurança entre o Doctor e a Rose, ele achando que ela poderia não querer viajar mais com ele depois que ele mudou, e ela achando que ele poderia não querer mais levá-la.
