Como vocês já devem imaginar, sim, eu acordei às 6 da manhã nessa última sexta-feira para assistir a série Marvel’s Jessica Jones logo que ela foi liberada pelo Netflix. E eu tinha expectativas altíssimas, é só olhar meus posts anteriores para confirmar. Mas também tinha um pouco de medo, lá no fundo, de que essas expectativas não fossem alcançadas.Só não esperava que acontecesse o que aconteceu: a série é ainda melhor do que eu imaginava!  Eu simplesmente não conseguia parar de assistir. Então, para fazer par com o último post de “Cinco Motivos para Ficar Ansioso(a) por Jessica Jones“, aqui vão alguns motivos (tentei deixar sem spoilers, tudo o que está aqui foi discutido em entrevistas e clipes liberados antes da série ser lançada) para assistir Jessica Jones imediatamente.

Antes, porém, é necessário falar sobre os trigger warnings de Jessica Jones. Para quem não sabe, um trigger warning, ou aviso de gatilho, é um tipo de aviso que deve ser dado quando algum dos assuntos tratados num filme, série ou livro pode causar reações negativas nas pessoas que passaram por aquele tipo de situação.

Portanto, não aconselho assistir Jessica Jones se você tem problemas com obras que tratam de estupro, perseguição e abuso, tanto psicológico quanto sexual. Ainda, existem cenas bem gráficas em Jessica Jones, tanto sexuais quanto de mortes violentas, então fiquem preparados.

Jessica Jones é real

Pode parecer estranho, afinal ela tem alguns poderes sobrenaturais, mas Jessica Jones é extremamente humana. Ela toma decisões erradas, ela tenta afastar as pessoas quando acha que pode machucá-las, ela bebe para esquecer a dor, ela não é educada com todo mundo, mas isso faz dela uma personagem com quem dá para se identificar. E isso faz toda a diferença.

Todos os personagens são muito bem desenvolvidos 

Não comece a assistir a série esperando personagens superficiais que apenas existem para cumprir seu papel na vida de Jessica. Sim, a série é sobre ela e todos eles acabam aparecendo para contar a história dela, mas cada um deles tem sua história própria e seus motivos para agirem do jeito que agem. Isso faz com que seus relacionamentos com Jessica sejam mais profundos, porque ambos os lados tem suas fraquezas e suas razões.

Personagens diversos, como na vida real

Eu assisti o Demolidor, primeira série lançada dessa parceria entre a Marvel e a Netflix, e gostei muito. Porém, uma das minhas críticas era exatamente que os personagens principais eram em sua maioria brancos, homens e heterossexuais. Ou seja, nesse sentido, Demolidor deixou muito a desejar. O mundo é muito mais diverso que isso. Jessica Jones, na contramão, é extremamente mais diversa em seus personagens principais. Além de ser protagonizada por uma mulher, você tem personagens negros, homossexuais, mulheres fortes e que não dependem de homem nenhum para sobreviver… Todos muito bem construídos, a quem foi dada uma história interessante e complexa. Aliás, o homem branco e heterossexual que mais tem destaque em Jessica Jones é o vilão da história e uma crítica aos seus privilégios é feita.

O vilão da história é realmente um vilão

Eu li muito sobre o Kilgrave, interpretado pelo David Tennant, por motivos de, bem, David Tennant. E muito embora em algumas entrevistas ele tenha tentado justificar as ações de seu personagem, argumentando principalmente que ninguém conseguiria manter um compasso moral se tivesse a mesma habilidade de Kilgrave, ainda assim, não há como ter empatia com o vilão. Kilgrave é egoísta, manipulador (mesmo quando não consegue usar seus poderes), mente descaradamente, não assume a responsabilidade por seus atos e basicamente nem toma conhecimento do sofrimento que causa. Não há desculpas para Kilgrave e David Tennant o interpreta de uma forma que, toda vez que ele aparecia, eu sentia um calafrio e uma repulsa, mesmo com todo o charme que o ator consegue mostrar quando o personagem exige.

Ação e drama na medida certa

Esse é um equilíbro um pouco difícil de encontrar numa série como essa. Em Demolidor, por exemplo, algumas cenas de ação foram um pouco longas demais para mim e eu acabava me distraindo, não conseguia prestar atenção. Em Jessica Jones, porém, achei que isso não aconteceu. Existem muitas cenas de ação sim, mas elas se encaixam muito bem com o resto da história e acabam adicionando ao invés de tomar muito espaço.

Assuntos importantes tratados da maneira correta

Muitas produções atuais retratam crimes como por exemplo o estupro, mas exatamente por se tratar de um tema tão delicado, poucas o fazem da maneira correta. Jessica Jones conseguiu ser diferente. Primeiro, porque chama o estupro de estupro. Não se embola no assunto, não tenta arrumar metáforas. É sexo sem consentimento? É estupro. Segundo, porque trata das consequências do estupro ao invés de focar no estupro em si.

Enfim, Jessica Jones é mais do que uma série sobre super-heróis ou pessoas com super-poderes. É a história de uma mulher que sobreviveu a algo terrível e que está no processo de se encontrar novamente. É a história de alguém que sofreu um abuso terrível e faz o que pode para conviver com isso. É a história de uma sobrevivente.

 E vale muito a pena assistir.