Desde que me entendo por gente, sei que sou diferente. Minha deficiência é bem visível e por isso sempre tive essa noção. Porém, com o passar dos anos, fui notando que as pessoas usavam vários termos diferentes para se referir à minha deficiência. E não só pessoas no dia-a-dia como também aquelas que deveriam saber os termos técnicos. Deficiente era o termo mais comum. O que notei foi que a forma de se dirigir a quem tem deficiência mudou com o passar do tempo e o que já foi aceitável, não é mais. Mas isso cria muitas dúvidas e as pessoas ficam perdidas.
Você que está lendo isso pode ser uma delas. Afinal, com certeza, já leu e ouviu várias dessas expressões. E qual o termo correto para se utilizar? Qual a melhor maneira de se dirigir a alguém com alguma deficiência? Seria “pessoa com necessidades especiais” um termo mais respeitoso? Tudo bem falar simplesmente deficiente?
Qual a maneira correta?
Para ser direta ao ponto: a maneira mais correta e aceitada de se falar hoje em dia é pessoa com deficiência. É como a ONU se refere quando criou a Convenção Internacional Sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência. Com essa convenção, o Brasil parou de adotar o termo “portador de deficiência”, que é o que aparece na Constituição Federal. Mas com o Decreto nº 6949 de 2009 que promulgou essa Convenção, o termo foi atualizado, digamos assim.
Essa é a justificativa legal, mas existem motivos pelos quais foi escolhido o termo “pessoa com deficiência”. Primeiro, porque destaca a condição de pessoa. Se usássemos “deficiente”, por exemplo, estaríamos focando apenas na deficiência, além de basicamente estar dizendo que a pessoa não é eficiente. Quando falávamos de “portador de deficiência”, dava a impressão de que carregávamos a deficiência por aí e que poderíamos largar ela quando quiséssemos. Porém, o termo pessoa com deficiência mostra de maneira mais efetiva que sim, a deficiência é algo que nos acompanha, mas que sou acima de tudo uma pessoa.
Já o termo “pessoa com necessidades especiais” ou “portador de necessidades especiais” é extremamente abrangente. Ora, qualquer um em dado momento da vida pode ter necessidades especiais. Portanto, deve ser evitado.
Ah, e nem preciso dizer que termos pejorativos, como aleijado, não devem ser usados em nenhuma situação, né? Gente, até a AACD, uma das maiores instituições de apoio à pessoa com deficiência no Brasil, ainda não se atualizou. No momento, AACD significa Associação de Assistência à Criança Deficiente. Mas já foi pior: o D já significou “defeituosa”. Sinceramente, acho que é um dos piores termos já utilizados.
E o que eu, pessoa com deficiência, penso sobre o assunto?
Minha opinião: gosto do termo pessoa com deficiência, mas acredito que em inglês existe um termo ainda melhor, disabled. Mas não existe uma tradução perfeita para o português, até por questões de significados e histórico de cada palavra. Então acredito que usar pessoa com deficiência é a melhor opção.
Espero ter ajudado a esclarecer um pouco sobre a melhor forma de se referir a uma pessoa com deficiência. Vocês já tinham tido essa dúvida antes?
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Que postagem importante! Acho que a maioria das pessoas tem dúvidas sobre a nomenclatura e, de qualquer modo, é diferente ver um texto aleatório falando sobre o assunto e um texto de uma pessoa com deficiência (falei certinho!) explicando o assunto e dizendo como prefere ser tratada. Também acho que esse enfoque na “pessoa” é super importante e fico feliz que tenha havido essa mudança na mentalidade.
Beijos, Vic