E para esclarecer qualquer mal-entendido logo de cara, a Jenny que é assunto desse post é a personagem que apareceu em The Doctor’s Daughter, interpretada pela Georgia Moffett Tennant.

Acho que de todos os personagens que só apareceram em um episódio, o personagem da Jenny foi um dos que mais deixou perguntas no ar, principalmente pela maneira como o episódio acabou, com ela se lançando no espaço em busca de aventuras, mostrando que sim, a genética ali falou mais alto. E levando-se em conta que quem pediu para salvar a Jenny no último minuto foi o Steven Moffat, atual showrunner, acho que todo mundo tinha a esperança de ver ela de novo. Ou melhor, ainda tem.

A maneira como ela foi incluída na história também chama bastante a atenção. Afinal, não é todo dia que esse Senhor do Tempo tem uma filha, não é mesmo? Mesmo que seja, como a Clara definiu no último episódio, Death In Paradise, através de uma transferência genética.

Eu acho que o episódio The Doctor’s Daughter é um dos episódios que não recebe o reconhecimento que merece. Primeiro, porque tem não só uma, mas duas companions dando show. Seja a Martha que, raptada pelos Gelths, coloca em prática as táticas diplomáticas aprendidas com o Doctor e não só consegue se comunicar com eles, como até usa seus conhecimentos médicos para pôr o ombro do Gelth no lugar; seja a Donna, que tantas vezes fala que é só uma temporária, que se utiliza de seu conhecimento e acaba resolvendo o mistério antes que o Doctor sequer entenda que existe algo errado por ali. Segundo, pela história que apresenta, mostrando dois exércitos lutando pela tal da fonte, há gerações e gerações, sem nem ao menos saber exatamente porque, mas lutando porque é o que sabem fazer. Existe uma metáfora muito forte aí, e acho que na maioria das vezes ela não é explorada.

A personagem da Jenny em si é uma das minhas personagens de um único episódio favoritas.O desenvolvimento dela em sua única aparição na série até agora é impressionante, principalmente por ser um episódio só. Ela nasce da máquina com todo o conhecimento militar, sabendo como manusear armas e atirar e com um único objetivo: lutar ou morrer na batalha. No início, ela não tem nem noção de individualidade: ela é parte de um exército e é isso que importa, razão pela qual nem ela nem seus companheiros questionam os motivos pelos quais devem lutar. Aos poucos, ela vai formando suas próprias opiniões, assumindo o nome que a Donna dá para ela, que vem de genirated anomaly (anomalia geneticamente criada, que é segundo o que o Doctor fala, o que ela é), e vai começando a questionar o mundo ao seu redor.

E as perguntas que a Jenny vai fazendo para o Doctor são as minhas preferidas. Por exemplo, ela serve para lutar. Para que servem os Senhores do Tempo? E se ele participou de uma guerra muito maior do que aquela, então ele também é um soldado, como ela, não?

São perguntas desconcertantes, mas que fazem a gente, como espectador, pensar sobre o assunto.

É interessante também como ela acaba mudando de opinião aos poucos, se colocando de maneira diferente em relação aos problemas, graças ao que o Doctor e a Donna falam para ela.

Todas as mudanças pela qual a Jenny passa durante esse episódio (aliás ela tem um desenvolvimento melhor do que muitos personagens da série atual) culminam em seu final, quando ela entra na frente de uma bala para salvar seu pai. Quem diria que alguém que foi gerada para apenas seguir ordens e calcular as melhores probabilidades para uma vitória poderia se sacrificar dessa maneira?

Eu quero que a Jenny volte? Sim e não. Eu adoraria que ela voltasse, mas teria que ter um bom motivo e o personagem teria que ser tratado com respeito, com uma história interessante. Acho que depois de cinco anos, voltar para ser meia-boca não vale a pena. Mas acho que a interação dela com o Doctor do Capaldi seria mais interessante do que com o Doctor do Matt, por exemplo.

Eu ainda espero que ela volte, por ser esse personagem incrível que ela é. Mas isso quem decide é o showrunner, e até agora não houve nenhum indício que isso vai acontecer… Quem sabe um dia! Dedos cruzados!